quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Um tecido espalhado no chão pareceu-me uma flor repousando.
Um jardim com várias flores nele estampado, mas o conjunto todo, pareceu-me uma flor.
Aroma de roupa lavada há pouco.
Perfume de rosas soltas, presas pela raiz em devaneio de pétalas flutuantes.
Flutuavam perfumes e rosas, luares e solares, estrelas e objetos identificados como estranhos.
Não me soam muito estranhas certas coisas incertas, já que são nomeadas assim por não fazerem parte das coisas comuns.
Adoro a estranheza, o torto, aquilo que perece fora do lugar, quando é o lugar que está fora de si mesmo.
Lugares são espaços normalmente óbvios.
São espaços que servem a pequenas utilidades certas e convictas.
Um parque, uma sala, um quarto, uma cozinha, um bosque, um jardim.
Cabe ao estranho deslocar o lugar, descortinar suas utilidades escondidas pelas cortinas que servem ao poder de não despertarem curiosidade alguma.
Uma cabeça, a princípio real, cheia de movimentos e ações, pode não ser a cabeça do corpo.
Pode ser a coadjuvante, momentos depois de pensarmos ser ela a protagonista.
Afinal, qual é o perfume e qual é o aroma?
O que move o amor e a arte para tornarem-se tão próximos na identidade e na pluralidade?
O tecido não está mais sujeito ao chão, não está mais sujeito a ser flor.
Tudo está sujeito a ser um objeto projetado.
Nós estamos cada vez mais sujeitos do que objetos, mais gente do que coisas, apesar das sucessivas tentativas de coisificação das pessoas.
Estamos colocando os olhos no mundo e no cosmos.
Ao colocarmos as coisas de volta aos seus lugares de origem, preparamos o espaço para as coisas que serão diferentes na semana seguinte, ou no instante da sequência.
A disposição dos objetos pelo espaço de utilidade óbvia, movem nossas cabeças na direção de ações cada vez mais estranhas a elas mesmas.
Elas que se conjugaram de uma forma ontem, e se conjugarão diferente amanhã, estranhas a elas mesmas.
Esse é o segredo da curiosidade tão necessária ao caminhar sobre os territórios da arte.
Mover nos lugares, os lugar reservado ao estranho.
O estranho espaço que há entre o que se espera e o trem interno que já partiu