domingo, 18 de setembro de 2011

A truta e seus espinhos


Tenho preguiça de comer as partes do frango que prendem-se aos ossos.
Por tudo isso só como o peito, que as pessoas insistem em dizer que é muito seco.
Ontem perguntei se a truta peixe tinha espinhos na hora de ser encarada como guloseima suculenta.
Anunciou-me o procedimento do garçom:
Ele apresenta na mesa a truta já assada e numa atitude só, arranca-lhe a espinha inteira.
O prato serve a duas pessoas.
A vida do artista é sua obra inteira e vice versa, expressa numa linguagem, duas, ou múltiplas, não importa, a vida do artista é sua obra e vice versa.
A truta assada sem espinhas é uma iguaria alemã embora não me pareça tanto.
O parecer das coisas e sua perecência.
O perecer das coisas é algo que não boto crença.
Creio mais no pensador francês que não arriscarei escrever o nome mas riscarei escrevendo-lhe a ideia:
Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.
Adoro isso bem antes do termo sustentável, assim como adoro o papelão, o barbante e a fita crepe.
As coisas não perecem já que retornam na aparecência através de um tipo de representação ou outro.
Re presentar é apresentar de novo.
Apresento a vocês a ideia de ser o maior produtor de obras de arte de todos os tempos.
Não eu, o Picasso, o Pablo, o senhor Ruiz, enfim, alguém que fez da vida uma obra e vice versa.
Um desenhista maravilhoso desapareceu sendo químico.
Reapareceu em pequenos cadernos guardados pela família.
Eu não tenho tanta preguiça quando vivo o meu andar sobre as cordas arteiras.
Rodas bambas das rodas de bamba.
Não tenho preguiça de comer truta sem espinhos