domingo, 15 de abril de 2012

O envelope e a máscara a circular


Devolvi um envelope vazio.
Ele carregou na semana passada um tecido pintado com aquarela e tinta branca em spray.
Deixei o fogo baixo depois da água ferver a fim de cozinhar o arroz branco.
Mal sabia que havia um pedaço de papel chupão descansando sobre a lateral do fogão.
Uma brisa, um vento leve, levou o pedacinho de papel para a chama ardente.
O fogo do papel começou a alastrar-se para o pano de prato.
A moça chegou a tempo de presenciar a cena e apagar tudo.
Veja como a presença mostra-se sempre importante.
Presenciar e agir fortemente para que as coisas aconteçam de forma um pouco mais segura.
Adoro ainda mais o nome que deram aos produtos de limpeza.
Ontem o filósofo alertou para duas questões.
Antes tinhamos segurança e clamávamos por liberdade.
Hoje temos liberdade e carecemos de segurança.
Achei o máximo os meus pais, no passado, expressarem a ideia que dizia que quando casássemos a coisa sararia.
Havia uma intensa confiança no tempo futuro.
Hoje a gente deixa o fogo ligado para produzir um gostar tão bom e de repente uma brisa incendeia o nosso futuro.
Em verdade, em verdade vos digo, que a raça humana nunca teve certeza alguma sobre o futuro próximo e muito menos a tem agora e esse é o bem estar das coisas, afinal somos desesperados demais para aguentarmos o fato da nossa própria finitude.
Nessas horas lembro do meu mestre e pai.
Infinito na lembrança de todos os dias onde acontece alguma coisa.
Meu mestre me ensinou a inventar e a minha mestra ensinou-me que todas as proparoxítonas levam acento.
Acento-me na minha convicção sobre o amor antidiscursivo das coisas para com as coisas e gosto cada vez mais de ser surpreendido pelo vento humano dos desquestionamentos.
Eu já me questiono sempre, afinal a minha hiperatividade mistura-se facilmente com a brutal ansiedade com que as imagens teimam em me tensionar contra a a minha mágica desatenção