segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Nau e fraga


Existem coisas saborosas e nutritivas.
Ao mesmo tempo que têm sabor, nutrem.
Os náufragos precisam de uma nau que naufrague, apesar que a frase colocada assim na prova, talvez nos informe que pouca gente sabe o significado do substantivo nau.
Fraga pode ser um terreno escabroso, ou um penhasco.
Escabroso é pensar que escabroso é horrendo, horrível, tenebroso.
Estamos à beira do abismo, num penhasco, ainda preso à cordas.
Náufragos nutrindo-se, mesmo que ainda não saibam e eu ainda não sei.
A nave vai.
Existem palavras saborosas e difíceis, no sentido de conhecermos o seu significado.
Fiquei sabendo que existem analfabetos funcionais, aqueles que conhecem as palavras, mas não compreendem os seus porquês.
Imaginam vocês, não conseguirmos montar uma frase compreensiva.
A minha nave vai.
Todas as frases que monto fazem sentido no conjunto. 
Causa-me graça essa informação, já que penso no leitor tentando juntar esses meus signos com os seus e os meus significados.
Interpretações.
Os náufragos precisam de uma nau que naufrague.
Precisamos - eu que escrevo e você que lê - irmos a fundo na palavra que nos ajude na colagem com a sua vizinha, para que o resultado nos nutra de alguma forma.
O sabor existe, porém cada um nutriu um gosto próprio e eu respeito.
Náufragos mergulham na insistente procura. 
Meu respeito é tanto que continuo propondo batismos

Um comentário:

Fereydoun disse...

É verdade... Mas há também os navegadores que não temem apenas o desconhecido, temem também ficar "à deriva", ficar alheios à normalidade, alheios aos estereótipos que lhes garantem o abraço de seus companheiros de nau. Têm medo de dizer "nau"... Têm medo de dizer "não". Têm medo de ir contra o vento, contra a maré, contra a rota da grande frota sem cérebro.

Agora, há pouco, antes de entrar aqui, por acaso ou por destino, estava olhando uma grande série de fotos dos destroços do Titanic. Que solidão solene lá naquelas profundezas! Que desolação! Aquele cemitério está cheio de boas almas que descansam entre as silenciosas ferrugens da nau titânica, esperando o sétimo sinal sonoro que convocará os mares a devolver os mortos que nele há. Creio que muitas dessas almas, se não forem todas, voltarão à superfície para serem recebidas em glória lá, onde não mais haverá morte, pranto ou dor.

Sim... Quantas almas ali foram santificadas na terrível tortura que sofreram antes de morrer? Muitas seguiram o barco em sua viagem ao abismo por estarem presas aos níveis inferiores da nau. Mas muitas também escolheram a morte, optaram deliberadamente por ficar com o barco, por irem à deriva, por deixar a preciosa vida para traz. Porque? Talvez porque cada uma delas, no último instante, descobriu haver algo mais precioso que nossa vida. Para cada um daqueles mártires pode ter sido algo diferente: para uns a simples honra, para outros o dever, para outros a preservação alheia, para outros todas estas coisas ao mesmo tempo... Deus sabe o que pensaram naquela noite pavorosa... A decisão que tomaram de ceder lugar nos botes salva-vidas, ficar tocando músicas, até o último minuto, para acalmar quem estava prestes a morrer, permanecer nas casas de máquinas para que o barco tivesse energia elétrica até o derradeiro instante... Cada herói teve seu próprio motivo. Mas tiveram todos que ir contra a maré, contra o vento, contra os próprios instintos básicos, contra a "normaliade" que a sociedade tanto acha boa. E assim, cada um deles compôs sua própria "Sinfonia Heróica", sua própria "poesia", sua própria "obra-prima épica" que não será jamais removida da memória de Deus. A coragem deles ecoará pela eternidade como uma música sublime, emocionante, tremenda.

Amigos, não tenhamos medo de naufragar; Não vamos temer a anormalidade; Tenhamos coragem de seguir nossos corações; Tenhamos arrojo para dizer "nau" e para dizer "não".